No dia 1º de fevereiro de 2007, a vela do Brasil sofreu intervenção do COB (Comitê Olímpico Brasileiro). Hoje, três anos e meio depois, o esporte brasileiro que mais medalhas conquistou em Olimpíadas segue sem autonomia e não tem data para reconquistá-la.
Segundo o COB, a “intervenção se dará até que a ordem desportiva, administrativa e financeira da entidade seja plenamente restabelecida”. No entanto, não fala sobre o tamanho da dívida nem divulga um prazo para que a ação termine. Em comunicado, afirma que “como algumas questões financeiras da CBVM estão tramitando na Justiça, o COB não se manifestará publicamente sobre o mérito dessas questões”.
Os problemas fiscais da Confederação são antigos, causados pela ligação da entidade com um bingo paulista – da época em que os bingos ainda eram legais. Como o CNPJ da entidade esportiva era usado para dar validade ao bingo, a entidade esportiva acabou sendo multada por irregularidades. Em 2007, a dívida, especulava-se, estava na casa dos R$ 100 milhões.
Presidente eleito da então Federação Brasileira de Vela e Motor – o nome mudou para confederação após a intervenção –, Lars Grael renunciou ao cargo e pediu a intervenção dias depois de chegar ao cargo. “Na época, eu tinha acabado de ser eleito quando descobri o tamanho do problema. Percebi que corríamos um risco sério. E, para evitar um apagão da vela em um ano tão importante, logo antes das Olimpíadas, pedimos a intervenção”, lembra Grael.
Questionado sobre a duração da intervenção, o velejador é claro. “O fato é que a intervenção ainda é necessária e desejada pelo Conselho da Confederação. Eu tenho certeza que, quando ela não for mais necessária, o próprio COB vai terminá-la, já que são dívidas que oneram o COB”, completou Grael, dono de duas medalhas de bronze em Jogos Olímpicos.
Essa certeza, no entanto, não é unanimidade. O advogado Alberto Murray Neto, árbitro do Tribunal Arbitral de Lausanne (TAS) e ex-membro do COB, diz que a intervenção sem prazo de duração é uma aberração jurídica. “Eu não sei qual o valor das dívidas, mas sei que é uma dívida impagável. Esse problema só será resolvido com uma renúncia fiscal por parte do governo. Se a situação é essa, a intervenção não acabará nunca”, diz.
Para ele, a intervenção pelo COB não mudou muito a situação jurídica da vela. “A responsabilidade é do presidente, estando em intervenção ou não. Não faz diferença se quem controla é o COB ou um presidente eleito. Agora, se você quer fazer uma intervenção, essa ação tem de ser clara, com um objetivo e com um prazo definido. Depois disso, o esporte precisa ser controlado por ele mesmo. Se a confederação tem uma divida, paciência”.
Enquanto a intervenção segue, os atletas brasileiros disputam, nessa semana, a competição mais importante para a CBVM na temporada: a semana pré-olímpica de Weymouth, na Inglaterra, disputada na mesma raia e na mesma época do ano das provas da modalidade nas Olimpíadas de Londres-2012.
No total, 18 brasileiros estarão nas raias olímpicas. Destaque para as duas duplas da classe Star: Robert Scheidt e Bruno Prada, vice-campeões olímpicos em 2008 e campeões mundiais em 2007, e Torben Grael e Marcelo Ferreira, campeões olímpicos em 1996 e 2004.